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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Já pensou se nós tivéssemos um deputado caririaçuense?

O sistema de governo brasileiro é considerado representativo, os eleitores votam no candidato que melhor representa seus anseios e questionamentos, a sua ideologia. Mas será que isso realmente funciona? Será que os candidatos eleitos representam a população que lhe confiou o voto? Até certo ponto, representam sim. Basta notar os evangélicos, os ruralistas, os homossexuais, os ambientalistas, sendo “representados” nas discussões políticas. Esses segmentos da sociedade são representados sim.
Entretanto tem um segmento que fica de fora. E qual seria? Nós, os pobres, os que vivem pendurados no crediário e que, se o salário atrasar no fim do mês, não sabe como vai alimentar sua família. Os representantes do povo, não representam os pobres, constatação mais do que óbvia.
Eu já escrevi noutra oportunidade, que um pobre não consegue nem se eleger vereador na Serra de São Pedro e, se candidatar-se, será motivo para pilhéria de seus semelhantes. Pobre que se candidata até parece o Judas e deve ser estripado por causa da sua vontade de representar a sua classe. Lavagem cerebral e ideológica da mulesta, ainda há quem afirme que não existe o abuso do poder econômico. Só quem tem legitimidade para ser candidato é quem pode aliciar votos economicamente. Eis uma verdade inconveniente. Se pobre não é eleito, logicamente que também não é representado. Se fosse representado, seria uma contradição. Eis aí um dos filhos do enlace matrimonial entre democracia representativa e capitalismo.
Segundo Antônio Augusto de Queiroz, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), é estimado que os gastos de campanha para se eleger um deputado estadual, são R$ 500 mil, e um federal R$ 1 milhão. Esse dinheiro poderia ser do próprio candidato ou de doações de simpatizantes. Um pobre nunca terá esse dinheirão todo e as doações que ele recebe são somente o assistencialismo do governo e a promessa de uma vaguinha no Reino de Deus, isso se for um bom menino nesta terra de gigantes. Eu num sei não, mas tenho quase certeza que os males da caixa de Pandora vieram somente para os pobres.
Partindo desse pressuposto, da constatação que nossa cidade é uma urbe paupérrima e da observação que toda eleição para deputado, eles se dirigem até aqui somente para conquistar o nosso voto e desaparecer no oco do mundo, por que não votamos num candidato caririaçuense para defender nossa cidade nas assembleias estaduais e federais? Lógico que ele não estaria lá para defender exclusivamente a Serra de São Pedro, bastava que as suas emendas parlamentares fossem destinadas ao progresso da nossa cidade e do nosso povo. Já pensou na alocação de recursos que isso traria? Certamente isso seria um grande auspicio para essa ralé que nunca experimentou plenamente o progresso.
Enquanto a isso, a falta de progresso, basta notar a famigerada inauguração de um orelhão e a querela entre a situação e um agente da oposição, que na época, começo de 2012, reivindicavam a autoria do projeto que trouxe a grande obra de um telefone público. Pense numa lapa de progresso.
Todos os anos que se tem eleições estaduais e federais, aparece em Caririaçu, pessoalmente ou através de seus cabos eleitorais, postulantes a salvadores do sertão esquecido. Eles podem até ter boa intenção e almejarem o bem comum, mas depois da votação e de alguns votos conquistados, os caba somem no oco no do mundo e só retornam quando um novo pleito se aproxima. Eles vêm com a cara de cachorro que lambe panela, como diria minha saudosa vovó, mendigar novamente os nossos votos.
Ao que se observa, nossa cidade parece uma colônia de votos. Assim como as Índias serviram especiarias à Europa, a África serviu mão de obra escrava para o Novo e o Velho Mundo, o Brasil serviu minérios, cana-de-açúcar, borracha, café, entre outros produtos, para as potências europeias, Caririaçu só serve para servir os seus votinhos para esses defensores de outras causas que não são aquelas necessárias ao nosso progresso.
O último censo realizado nas terras de Ibirapitanga (nome que os índios chamavam o pau-brasil, planta que batizou o país), em 2010 e no qual, este escrevinhador teve a experiência de trabalhar como coletor de dados, apontou que a população da Serra de São Pedro correspondia a 14031 urbano e 12362 rural, totalizando 26393 habitantes. Desse total, 20290 eram pessoas que estavam aptas a transferirem para outrem a sua pequena parcela de poder. De lá pra cá, certamente a população aumentou e seu número de eleitores também, e conseguir uma fatia desses votos é de grande valia para qualquer postulante.
O problema é que a nossa cultura está viciada em valorizar e a atribuir crédito somente ao que vem de fora, não a cultura de Caririaçu, mas a nacional. Como diz uma canção dos Titãs (A melhor banda de todos os tempos da última semana), “um idiota em inglês/ se é idiota é bem menos que nós/ um idiota em inglês/ é bem melhor do que eu e vocês”. Desta maneira é muito mais fácil apoiar um forasteiro do que um nativo.
O povo são pedrense sempre votou em deputados de fora. Estimado leitor, desculpe a minha ignorância, mas tem alguma coisa boa e palpável que você, sua família e seus amigos usufruem que subiu à Serra puxados por eles? Uniforme de futebol não devem entrar nessa lista, embora o incentivo ao esporte mereça aplausos. Lógico que há algumas obras louváveis, mas se comparando com as que poderiam ser com deputa nosso lá, são incomparáveis.
Agora entra na baia os tecnocratas, burocratas e entendidos da política. Certamente eles dirão que essa moção é uma divagação e não é possível eleger um deputado somente com os votos de Caririaçu, pois o quociente eleitoral, político, a legenda, as alianças e o programa do partido, a cotação do dólar, o preço inflacionado do voto, a plataforma da campanha, a mensagem subliminar, o luxo das igrejas, o beijo gay da novela, o gol anulado, a luz amarelada do poste e o “carái de asa”, seriam um grande empecilho. Os argumentos variariam dos mais lógicos aos mais estapafúrdios. Mas isto poderia ser resolvido com um partido pequeno e de pouca representatividade. O pior problema não é este, o que quebra a bola mesmo, é encontrar um cidadão que conquiste os dois grupos políticos reinantes, que no fundo são tão iguais e só acreditam em heróis e antagonistas diferentes e mudam de lado conforme o benefício que lhe é atribuído. Quem pode ser o semideus que seduziria esses e aqueles que não se sentem contemplados pelas suas ideologias?
Que se fale, se discuta, que venham os “eu acho isso, eu acho aquilo”. Para quem tentar refutar tal proposição, apresente uma melhor que possa libertar nosso chão desse marasmo e que caminha com passos de uma tartaruga com fome e com preguiça no rumo do progresso.
Se nós fizermos o que foi exposto, podemos até não conseguir o objetivo, entretanto, é possível que viremos objeto de estudo de algum de sociólogo, cientista político, antropólogo, cientista social, historiador, ou outros cabocos metidos a sabido que tentarão, à luz da sua ciência, entender esse fenômeno.
Isso pode até ser doidice. Se for, endoide também e diga como se faz para trazer o progresso para essa terra banhada pelo sol, mas que é desprovida de luz. Todo mundo tem a solução na ponta da língua, diga a sua. Desça da liteira da lucidez que é carregada no lombo do medo de errar e ser refutado.
Se o progresso deverá chegar através da iniciativa privada, por que ela nunca se interessou pelo nosso Caririaçu?

PS: Os próceres políticos de nossa comuna, que por ventura me derem a honra de serem meus leitores, e que certamente apoiarão e pedirão votos para candidatos de alhures, por favor, não vejam essa moção com as lentes míopes da politicalha e nem levem para o lado pessoal. Isto é apenas “um sonhador maginano”. Se o que as suas excelências almejam é ver essa cidade prosperar, não tem como nós sermos antagonistas.
PS2: Os soldados ideológicos, aduladores e interesseiros, por favor, não saquem a arma no salão, eu sou apenas o escrevinhador[1], aquele que relatou toscamente uma verdade inconveniente.




[1] Paráfrase de trecho da canção “Apenas Um Rapaz Latino Americano” de Belchior.