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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Donana

Não queremos aqui dissertar sobre os traços biográficos dessa grande personalidade caririaçuense e que, para nossa felicidade, ainda habita entre nós. Não vamos falar quando nasceu, de quem é prole e qual a profissão que exerceu para suprir as suas necessidades materiais. Falaremos resumidamente de Ana Soares Cardoso, para os mais velhos e mais entendidos, ela é Donana.
Ela uma é senhora simples e de hábitos singelos, todavia é possuidora de uma inteligência esplêndida e uma memória que nenhum superlativo lhe faz justiça.

A título de informação para os mais moços, Donana é simplesmente a letrista do Hino de Caririaçu. Canção que o leitor, se já estiver pelo menos beirando a adolescência, já deve ter cantado muitas vezes e o entoará pelo resto dos seus dias, numa demonstração de amor e empatia pela Serra de São Pedro.
Se os jovens de hoje bradam a belíssima música Jardim Molhado do Sertão, do amigo João Kyor, com os belos versos: Sou do Ceará, do interior/Das terras de lá/Caririaçu é o meu lugar; os nossos avós, pais e até irmãos mais velhos aprenderam a declamar os versos de Donana: Caririaçu, terra altaneira/Vimos cultuar a tua bandeira...
A letra do hino de Caririaçu foi composta em 1967, ano em que nossa cidade era governada por Raimundo Bezerra Lima (Mundeza) e quando teve início a festa do município no mês de agosto daquele. Donana, na época, era funcionária da prefeitura e como Caririaçu não possuía um hino, ela teve a ideia de fazer a letra. A inspiração, ao contrário do hino de muitos países e cidades, não foi à história do lugar e seus pequenos e grandes feitos, a inspiração de Donana, como ela mesma nos afirmou, foi à natureza que circunda e permeia nosso torrão.
A melodia foi feita pelo maestro João Boaventura e o hino foi cantado pela primeira vez no dia de São Pedro de 1968, pelo Coral Santa Cecília, coral liderado pela própria Donana, no Círculo Operário São José (hoje a sede do Grupo de Escoteiros Nossa Senhora do Carmo).
Além do hino da nossa cidade, Donana também compôs o Hino da Paróquia de São Pedro que nunca foi gravado, cujo refrão diz:
Eia povo, povo são-pedrense, avante, avante a bradar
A paróquia centenária, vamos homenagear[1]
Essa pessoa que anda pelas nossas ruas com passos lentos e vagarosos, às vezes carregando algum objeto nas mãos e sempre ignorada pela maioria da população caririaçuense, merece todo o nosso respeito e admiração.
Todavia, Donana é já uma idosa e, o idoso é desprezado pela lógica irracional humana de só dar valor aquilo que lhe conferir prestigio, o idoso só tem o conhecimento da vida passada, sobrevive ao presente e não projeta mais o futuro, apenas o profetiza.
Nos dias em que vivemos, a sapiência do empirismo e da observação, não têm valor algum. O valor das coisas contemporâneas está em consumir aquilo que é imposto pela indústria cultural. Se não consumirmos, nos sentimos à margem dessa sociedade consumista e individualista, e assim caímos na crença que somos fracassados.
Destarte, por isso, é fácil desprezarmos pessoas como Donana e, cada vez mais fazermos vênia ao lixo cultural da televisão.
Que Donana sobreviva ainda muitos anos. As pessoas que poderem e tiverem oportunidade de conversar com ela, não perca a chance, garanto que irá aprender mais do que em um ano letivo da escola. Na escola se senta, se cala, faz prova, passa de ano, para no final ganhar um pedaço de papel. Donana, inconscientemente, pelo menos foi a impressão que eu tive ao conversar com ela, ensina a conhecer e admirar a vida, o universo e tudo mais. Sem falar no imensurável conhecimento que ela tem da nossa cidade.
Donana é parte importante do patrimônio desse chão e sugere-se que se crie um busto e a faça-se uma justa homenagem a ela em vida. O busto poderia ser aos moldes do de Padre Augusto que se encontra na Praça que leva o seu nome. Também poderia fazer semelhante honraria a outras personalidades de Caririaçu, como, por exemplo, os escritores Raimundo de Oliveira Borges, Ivan Magalhães (que escolheu a Princesa da Colina, como ele descreveu Caririaçu, para viver), Célio Mendonça (que só por ser professor já merece toda nossa reverência), Padre Vicente, a educadora Maria Floscoeli, o multifário João Kyor (que com sua decisão de se dedicar somente à música, certamente levará o nome de nossa cidade a lugares longínquos e inimagináveis), o inesquecível cineasta Zé Sozinho (com o qual me orgulho de ter conversado em algumas oportunidades, quando labutava numa videolocadora) e mais alguns outros que  buscaram o progresso e levaram o nome de nossa cidade por onde colocaram os pés.
Esta cortesia não seria atribuída a nenhum político. Se não apareciam aos borbotões reclamações dos passados, presentes e vindouros que se sentiriam no direito de serem agraciados. Sem falar que político é eleito para fazer coisas boas e não há grandes méritos em realizá-las, quando as faz, é apenas o dever cumprido.
Que Deus dê ainda muitos dias a Donana, que se aproveite o que ela pode ensinar a essa juventude bovarista e pavoneada.
Viva Donana. Viva o nosso o povo, a nossa gente.
Nós não precisamos importar heróis, em Caririaçu houve e há vida inteligente, gente boa, gente que honra a gente, gente que se garante.

PS: Este pequeno esboço só foi possível, graças ao incentivo constante do amigo Marcelo Antônio (Marcelo Sam) que desejava fazer essa pequena homenagem a Donana. Ao parceiro Marcelo, que recentemente sofreu uma grande perda e está passando por um momento triste da sua vida, esse texto é dedicado a você.
PS2: As imagens que ilustram esse texto foram tiradas por Izaquiel Vieira da Silva em janeiro de 2012.




[1] Se alguém se interessar em conhecer esse hino, entre em contato pelo e-mail: fcopsousa@hotmail.com ou pelo facebook.com/fcopsousa que eu enviarei o canto entoado pela própria Donana.

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