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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Museu Nogueira Machado

O Museu Nogueira Machado teve sua gênese em fins do século XIX e na primeira metade do Séc. XX. Ele surgiu de uma ideia simplória e ao mesmo tempo de uma profunda sapiência do Sr. José Nogueira de Melo (1874-1954) ou Zé Pereira, como era vulgarmente conhecido em São Pedro[1].
José Nogueira de Melo em 1926
Homem extemporâneo, à frente sua época, de incomensurável destreza mental que reunia em si mesmo uma inteligência célebre, teve a transcendental e fenomenal ideia de recolher objetos e quinquilharias que em suas elucubrações pudessem representar fragmentos da história de sua cidade e cercanias.
Assim ele começou a juntar as mais diversas peças, desde pregos e parafusos passando por mobiliários e livros até instrumentos laboratoriais.
Em suas viagens alhures sempre recolhia artigos que lhe despertassem interesse.
Aos poucos a ideia de Sr. “Zé Pereira” foi sendo difundida na comunidade e esta por sua vez, vez por outra levava-lhe alguma peça para compor e medrar o seu cabedal.
Com o seu óbito na década de 1950 e de seus familiares contemporâneos, alguns dos artigos por eles deixados, tornaram-se acervo do museu. Destarte, formou-se assim o acervo do incipiente museu.
Entre os artigos do museu foi encontrado um documento arrolando os museus do Brasil nos anos de 1950, por curiosidade lá estava o nosso com o nome de Museu Nogueira. Para não deixar dúvidas que poderia ser outro museu do nosso país, lá também constava o seu endereço.
Quase sem nenhuma atração no povoado, às peças deixadas pelo sábio homem tornaram-se atrativo turístico da urbe e todo o populacho da vila e forasteiros eram singelamente convidados a apreciarem aquele conjunto de ”ninharias”.
Nos dias atuais a miscelânea chega a suplantar a marca de 3 000 (três mil) artigos subdivididos em coleções: documentos, numismática, peças de mobiliário, história natural, armaria, utensílios domésticos, objetos pessoais, entre outras.
Entre as peças do acervo destacam-se algumas que foram objetos pessoais de personalidades famosas da cidade de Caririaçu e também da região do Cariri.
Sobrepuja-se também dos demais artigos uma coleção de almanaques raros que abarca o período de 1904 a 1960.
Lápide de Zé Pereira
O prédio que abriga o museu localiza-se em Caririaçu na Rua Carlos Morais[2], antiga Rua Grande, à altura do número 485 no centro da cidade, próximo à igreja Matriz de São Pedro. Ele foi erguido em 1908 para servir de residência para Zé Pereira e sua prole, assim permanecendo até 1929.
Nesta época os exemplares museológicos eram acondicionados no Edifício Nogueira, prédio engendrado por Zé Pereira com o propósito de embelezar a auspiciosa e briosa vila. Este edifício está estabelecido no cruzamento das ruas Carlos Morais e Cel. Vulpino da Cunha[3], ou simplesmente Rua da Feira.
Atualmente o prédio do museu encontra-se com a sua estética levemente modificada, tendo as paredes sido revestidas de reboco, porém com o piso (constituído de tijolinhos) e o teto conservados os originais.
Um detalhe interessante encontra-se numa das portas do museu. Na sedição de 14[4] o povo, que se encontrava assolado pela miséria, tentou arrombar a casa de Seu Zé Pereira, onde funcionava uma padaria e uma pequena bodega. Os revoltosos desfecharam golpes de foices e enxadas nessa porta com o objetivo de derrubá-la e apropriar-se dos produtos que ali eram comercializados. Ainda hoje há resquícios nessa porta desse levante.
O formato desta porta, com um recorte na parte superior, muito comum no interior do Nordeste, tem sua origem na Holanda.
A sua fachada apresenta belas cornijas. Fruto da arquitetura clássica de um passado que estamos literalmente extirpando-o.
O Museu Nogueira Machado conjuntamente com o seu acervo não tem o objetivo nem tampouco a pretensão de fotografar o pretérito da cidade de Caririaçu, ele apenas conta um ínfimo fragmento da história da antiga Vila de São Pedro.
Em 2007 foi criada a Associação de Amigos do Museu Nogueira Machado com o intento de angariar recursos para organizar e gerir o conjunto de objetos históricos que se encontravam dispersos. Através desta associação, a SECULT (Secretaria de Cultura do Estado do Ceará) patrocinou o Projeto de Tombamento e Inventário do Acervo (iniciado em janeiro de 2010) por intermédio do Edital Patrimônio 2008.
Atualmente o acervo museológico passa por um processo de higienização, construção dos inventários e tombamento. Galgada esta etapa, finalmente as peças poderão ser expostas para estudos, visitação, apreciação e deleitamento da comunidade “são-pedrense” e visitantes de outras cercanias.


PS: Talvez se nossa cidade fosse administrada por cidadãos genuinamente caririaçuenses (gente da gente e que gosta da gente) e com responsabilidade com o progresso (sim, museu também é progresso e não somente concreto, asfalto, tinta, e semáforo como querem que acreditemos) e com o desenvolvimento de todos os aspectos sociais da nossa comunidade, o Museu já estivesse aberto, funcionando e cumprindo seu dever social e cultural. No entanto, os administradores querem nos calar e nos cegar com essa maldita política de “pão e circo” e clientelismo! Será que alguns dos "santos de plantão” se encaixa nesse perfil???

PSS: O notável mestre Raimundo de Oliveira Borges, certamente o maior pesquisador e estudioso sobre nossa cidade, em algumas das suas ricas, belas e consultáveis obras literárias, fez alusões sobre o “museu de Zé Pereira” e aconselha aos poderes públicos o imediato apoio ao museu para o seu funcionamento. Porém a mesquinhez da política interesseira e a abundância de ignorância que habita na nossa massa cerebral gritam mais alto do que os murmúrios do bem coletivo. Parabéns àqueles que estão na política não para “cuidar do povo”, mas apenas para granjearem vantagens numa sociedade onde não se enxerga meritocracia e é marcada por corruptos conchavos mercadológicos e clientelistas.

Referência Bibliográfica:
BORGES, Raimundo de Oliveira. Serra de São Pedro Município de Caririaçu (Esboço Histórico). Tipografia e Papelaria do Cariri, Crato 1983.


[1] Hoje Caririaçu.
[2] Carlos José de Morais, vulgarmente conhecido como Seu Carlinhos, ex-intendente da cidade.
[3] João Vulpino da Cunha, nomeado primeiro intendente do município. Geriu a vila entre os anos de 1877 e 1899, perfazendo 12 anos de gestão.
[4] Revolta liderada por Padre Cícero e o Deputado Floro Bartolomeu contra o ato do Marechal Hermes da Fonseca, então presidente da República, de tirar as oligarquias (principalmente a Acioly) do poder estadual.

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